Agroecologia: é que é e quais as suas características?
Jornalista formado na PUC/RJ com 25 anos de atuação em veículos especializados em alimentos, agricultura e pecuária.
A Agroecologia pode ser definida como uma técnica desenvolvida na agricultura a partir de uma concepção de caráter ecológico.
Você sabe o que é Agroecologia?
A agroecologia é tipo de prática agrícola que prioriza a utilização dos recursos naturais de forma consciente, ou seja, respeitando e mantendo o recurso ao longo de todo o processo produtivo — desde o cultivo até a circulação final dos produtos.
A agroecologia é caracterizada por apresentar-se como uma opção para a redução dos problemas ocasionados pelo modelo corriqueiro de agricultura, provocando a queda da biodiversidade, indicando opções sustentáveis benéficas às propriedades do solo.
Na agroecologia, existe o entendimento de que todas as formas de vida presentes em um ciclo da agricultura possuem uma conexão e cada um sua devida importância e, por isso, devem ser tratadas de maneira indispensável para a manutenção do equilíbrio ambiental.
Quais são as práticas da Agroecologia?
As agriculturas que possuem uma base ecológica, como a agroecologia, lidam com formas naturais integrando o meio e os elementos que estão presentes nele. As práticas englobam não só o cuidado com a vida vegetal e animal, mas também a preocupação da vida no solo e seus benefícios, a ciclagem de nutrientes, a preocupação no uso das águas, o controle biológico de possíveis pragas, o bem-estar animal, a qualidade de vida daqueles que estão em contato direto com o meio, entre outros fatores.
As agriculturas de base ecológica apropriam-se de distintos estilos de conhecimento como, por exemplo: Agricultura Natural, Agricultura sustentável e Ecológica, Agroecológica, Alternativa, Biodinâmica, Biológica, Orgânica e Permacultura.
As principais práticas consistem no favorecimento da ação de “organismos agrícolas” enquadrados em seu ambiente terrestre, assegurando equilíbrio, saúde e longevidade para a terra, a agricultura e o próprio consumidor final.
Suas práticas classificadas devem ser o circuito fechado de substâncias e forças entre o solo, os animais e a vegetação; criação onde os animais podem habitar e se desenvolver de acordo com a sua natureza, especial atenção a todas interações e aos ritmos do próprio ambiente.
A consciência parte da premissa de que toda a produtividade desproporcionada interromperia o equilíbrio do organismo agrícola e que seria prejudicial à saúde e à multiplicidade deste, buscando assim favorecer ao máximo a biodiversidade vegetal assim como a animal, a formação de um solo vivo e por um trabalho do solo adaptado.
Existe um incentivo às boas práticas agrícolas visando uma boa gestão da matéria orgânica, um trabalho do solo no bom momento, com o estudo do calendário biodinâmico para mais referências e através de materiais ajustados, longas rotações com uso de sementes adequadas em tempo favorável e gestão correta dos adubos verdes, principalmente.
As práticas envolvem aspectos de saúde e ecologia com claras implicações econômicas e sociais, e se define como um sistema de exploração agrícola baseado na utilização de tecnologias alternativas fora do comumente utilizado, que buscam extrair o máximo proveito da natureza, das ações do solo, dos seres vivos, da energia solar, de recursos hídricos e é fundamentada no método natural de formação do solo.
Na prática, recorre-se ao princípio da reciclagem de recursos naturais e enriquecimento da matéria orgânica e microorganismos do solo para tornar a exploração agrícola duradoura e racional, utilizando-se de sobras de vegetais, conservando pureza do solo e permitindo a reciclagem dos nutrientes para que as plantas se desenvolvam.
A agroecologia nasce nesse sentido como uma ferramenta com a habilidade de ajudar de forma eficiente para impedir o crescimento dos sérios problemas ocasionados pelas grandes modificações climáticas em todo o planeta, dispondo de princípios que estão encaminhados para a saúde e a recuperação da parte física, biológica e química do solo.
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Conceito de Agroecologia
A agroecologiaé uma área de conhecimento que engloba diversos tipos de pensamentos, holísticas e avanços científicos, com base em estudos multidisciplinares, que contribuem para adequar o seu atual corpus teórico e metodológico, tendo como principal prática o agroecossistema, porém também outras como a compostagem, a produção de húmus com minhocários, sistema agroflorestal, entre outros.
O conceito de transição agroecológica pode ser compreendido como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas a estilos de agriculturas que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica com auxílios que são muito mais do que meros aspectos tecnológicos ou agronômicos da produção, englobando dimensões maiores e complexas que compreendem tanto variáveis sociais, econômicas e ambientais.
Qual a proposta da Agroecologia?
A agroecologia nasceu do conceito de estabelecer a produção de alimentos mais saudáveis, que possam ser produzidos em escalas suficientes para suprir as necessidades da população, todos cultivados através de técnicas sustentáveis de agricultura.
A agroecologia visa tal produção através da interação entre os produtores e o ambiente cultivado, ou seja, homem e meio em total interação, fazendo com que o próprio ser humano seja visto como componente desse sistema ambiental e tais interações ocorram de forma harmoniosa.
Seu principal objetivo é, antes de mais nada, valorizar a biodiversidade. Com essa premissa, visa estimular técnicas de cultivos diversificados, práticas que exaltem o cunho ecológico e onde as próprias questões sociais, como gênero e cultura, possam inteirar o caráter produtivo.
Produção da Agroecologia
A produção agroecológica é uma realidade no Brasil e em muitas partes do mundo. Inicialmente difundida na agricultura familiar e em pequenos espaços, já passa a ser encontrada em grandes propriedades que produzem alimento em larga escala.
O primeiro passo para viabilizar essa produção é abandonar os agrotóxicos e produtos químicos anteriormente utilizados nos plantios. A adubação deve ser natural, com insumos retirados do próprio local, com técnicas de compostagem, por exemplo.
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A produção e cultivo, no contexto da agroecologia, está sedimentada em conceitos que unem biologia, ciências e sociologia. Tal união de princípios permite o entendimento acerca da agroecologia não só como ciência, mas como um próprio movimento dedicado ao estudo das relações humanas e biológicas produtivas, tendo como personagens o homem, o solo e a natureza. Essa inovação traz também o incentivo à praticas éticas e socialmente construtivas.
Qualquer tipo de prática, nesse sentido, tem como base regressar aos conhecimentos obtidos em épocas distintas, como por exemplo, as comunidades tradicionais, camponesas e indígenas, que aprenderam com o saber holístico e podem transmitir conhecimento. Tal saber poderá ser acrescido de técnicas científicas, desenvolvendo a a cooperação entre os participantes do processo, em busca de uma maior eficácia de desempenho.
Quais são os princípios básicos da Agroecologia?
A agroecologia possui alguns princípios que devem ser observados em seu desenvolvimento, entre eles:
1. Conservação da biodiversidade dos ecossistemas, levando-se em conta todas as possíveis interações existentes entre os participantes do ciclo produtivo, sejam eles parte do solo, bioma ou vida animal, com o intuito de regular e assegurar o agroecossistema da propriedade.
2. Criar condições factíveis para que o uso do solo e seu desempenho durante o processo possa ser preservado, bem como sua fertilidade e o desenvolvimento saudável das especies, apoiando-se em práticas como a adubação verde, diversificação entre culturas, cobertura permanente do solo, cultura em faixas de outras espécies, entre outras opções viáveis.
3. Utilização de espécies ou variedades que possam adaptar-se às mesmas condições do solo utilizado, bem como tenham a correspondência ao clima local, para que seja possível minimizar possível necessidades externas que interfiram no bom desenvolvimento do cultivo.
4. Possibilitar uma produção de forma sustentável, que não esteja baseada em utilização de produtos e adubos químicos degradados do meio ambiente, priorizando a utilização do adubo orgânico, de produtos minerais com decomposição simples e, principalmente, favorecendo um manejo fitossanitário no que diz respeito ao controle de possíveis pragas ou enfermidades.
5. Variar as atividades econômicas da propriedade, procurando a integração entre elas e a maximização do usufruto dos recursos endógenos para diminuir a obtenção de insumos externos à propriedade.
6. Criar mecanismos que auxiliem o produtor local na auto-gestão da plantação e comercialização dos produtos, como forma de incentivar o desenvolvimento sócio-econômico da comunidade local, respeitando sempre seu contexto cultural.
De forma mais precisa, a agroecologia pode ser tida como uma aproximação da agricultura baseada nas práticas da natureza, nas quais se destacam a sucessão natural, que permite a recuperação da fertilidade do solo, sem o uso de fertilizantes minerais, e o cultivo sem o uso de agrotóxicos, através de ações que buscam o equilíbrio natural dos componentes do solo.
Biodiversidade
A biodiversidade, protegida em práticas de agroecologia, pode ser definida como a variedade de vida ou a de todas as formas de vida existentes na Terra, sejam elas macro ou microscópicas. Ela pode serpode ser apreciada em variados níveis, desde o mais alto, onde todas as espécies da Terra são consideradas, até os mais baixos, como as espécies que englobam o ecossistema de uma certa propriedade.
A projeto centralizador da agroecologia é diretamente contraposto ao que prega a produção baseada exclusivamente na monocultura. Como se sabe, essa forma de agricultura está enredada com mecanismos de utilização e dependência de insumos químicos e na alta mecanização de seus cultivos.
Tal forma de trabalho acaba por ocasionar culturas arraigadas de concentração de espaços de plantios, formas insalubres de trabalho, que beiram a escravidão, e a perspectiva de que a própria produção é toda direcionadas a outras localidades. O meio onde se planta não usufrui do que se colhe.
Um dos principais males instituídos pela prática da chamada monocultura foi a perda de grande parte da biodiversidade local, que afetou não só o ecossistema, mas também trouxe problemas para a própria sociedade. Tal prática faz com que haja a homogeneização do sistema e a perda de possibilidades de integração entre os meios.
Principais desafios da agroecologia
Atualmente, as produções em larga escala utilizam técnicas de manejo da monocultura. Nesse sentido, para que haja uma mudança nesse mecanismo de produção, é preciso haver a transição agroecológica nos solos degradados pela prática de agricultura convencional.
A transição agroecológica é a passagem da maneira convencional de produzir com agrotóxicos e técnicas que agridem a natureza para novas maneiras de fazer agricultura, com conhecimentos e bases cientificas com tendências ecológicas.
O objetivo é proporcionar, de forma integrada à produção agrícola, o respeito e a conservação da natureza, não se esquecendo da meta de possibilitar uma melhor qualidade para as presentes e futuras gerações, do fortalecimento local, regional, territorial e/ou nacional, sejam eles consumidores ou produtores agrícolas.
A chamada transição da agricultura tradicional para as formas da agroecológica acontece de forma interna e externa, dado que a modificação das características estruturais e na forma de cultivo, entendidas como mudanças internas terão reflexo na unidade de produção, que está localizada no ambiente externo.
Mas se faz necessário que, para que haja realmente a utilização da agroecologia como forma de cultivo, exista um doutrinamento sobre o tema, de forma a incluir toda a sociedade participante, seja ela agrícola ou de comercialização.
Tal mudança também deve ser ampara pelo próprio poder público, através de iniciativas que apoiem e deem escopo para a viabilização dos projetos de reestruturação e implantação da agroecologia.
Importância da Agroecologia
Alguns dos fatores capazes de influenciar na transição agroecológica e a mudança no sistema de cultivo e produção é uma maior consciência pública, organização, mercados e infraestrutura, mudanças no ensino, pesquisa e extensão rural, adoção de legislação pertinente e fiscalização e uma reforma agrária eficaz.
A agroecologia pode mudar a forma como produzimos os alimentos e como esses chegam até a mesa das pessoas, colaborando com as pessoas envolvidas no processo, mantendo o meio ambiente saudável e colaborando para a qualidade de vida dos consumidores finais, ou seja, beneficiando toda a sociedade.
Formado em jornalismo pela PUC/RJ, há 25 anos atua no jornalismo especializado voltado para alimentos, agricultura e pecuária. Começou em 1995 como repórter na Revista Manchete Rural, onde foi também redator e chefe de reportagem. Fundou a revista Panorama Rural (1998) e o Portal Dia de Campo (2008), no qual publicou mais de 11 mil artigos, entrevistas em áudio e vídeos sobre o assunto.